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18 de março de 2009

 

Momentos três em um






Estive pensando esses dias que faz tempo que não tenho um momento três em um. aliás, esse é um fenômeno tão raro que por mais que eu force a memória só consigo lembrar concretamente de dois episódios três em um em toda minha vida, e ainda assim sou um felizardo porque garanto que muita gente não teve nenhum.

Momento três em um foi o termo que eu adotei pra me referir àqueles casos em que três fatos engraçados acontecem no mesmíssimo instante, pode ser um em decorrência do outro ou podem ser aleatórios, desde que aconteçam num espaço de tempo curtíssimo, sem que você tenha oportunidade de respirar entre uma gargalhada e outra.

A primeira vez que isso aconteceu eu deveria estar entrando na adolescência, e os protagonistas foram quatro: um adolescente com os hormônios a ponto de explodir, uma japonesinha antipática, um peidorreiro e uma velhinha.

O adolescente dos hormônios era um camarada nosso que era o típico arroz. Era amigo de tudo que é menina, dava bom-dia pra todas elas, tava doido pra transar com alguma delas, mas não comia ninguém. Na verdade ninguém ali do grupo comia alguém naquele tempo, mas como ele era o único que tentava, ficou com a fama.

A japonesinha antipática era uma menina lá do bairro que era até bonitinha, mas era insuportável. Sabe essas meninas que parecem que tem três cabaços? Então, ela era assim. Tá certo que todas suas amigas eram virgens, mas era uma questão de tempo, dava pra notar que elas esperavam só ter um pouco mais de idade pra começar a brincadeira, mas a japonesa não, ela era dessas que vê o sexo como uma taxa a pagar se quiser ter uma família, um karma, uma multa pela tentativa de engravidar.

O peidorreiro era um amigo nosso que peidava muito, e a velhinha era uma igual a essas que você vê hoje pela rua.

Daí então estávamos o arroz, o peidorreiro, eu e mais uma galera reunidos no corredor do prédio batendo papo descontraidamente quando a japonesinha surgiu e passou entre a gente com cara de nojo sem nem sequer dirigir a mirada, como se fossemos um gás tóxico espalhado pelas escadas do edifício ou um arroto que alguém soltou ali e perdurou mais tempo que o normal.

Nisso, nosso amigo arroz tenta a sorte:

- Oi, Érica!

A menina nem olha, estala o beiço e continua andando. Todo mundo caiu de gozação em cima do cara num uníssono:

- Aêêêê !!!!!

De repente todo mundo parou de gritar ao mesmo tempo, fez-se um silêncio estranho, que foi quebrado pelo peidorreiro:

- Prat!

Risada geral! Quebrar silêncio com peido é o que há! E é nesse momento que a velhinha entra na história, já que ela vinha subindo as escadas bem no momento do peido, pegando nosso amigo em flagrante e exclamando:

- Pôôôxa!

Foi a cereja do bolo! Três em um! Ríamos sem saber se era pelo fora da japonesa, o peido do colega, ou a surpresa da velha. Quando um dos acontecimentos perdia a graça, começavamos a rir pelo outro, depois pelo terceiro, mas daí nos lembrávamos que ainda tinha um pouco de graça pra rir do primeiro, e foi assim que todos ali quase tivemos uma convulsão. Esse foi meu primeiro três em um, mas o segundo e último foi melhor.

No segundo três em um eu estava passando o verão numa praia e eu tinha um amigo retardado. E quando digo retardado é porque o rapaz fazia coisas que não tinham cabimento algum. E foi uma dessas coisas que começou a confusão.

Estava ele, um outro amigo nosso e eu na praia. Passou um desses vendedores de cus-cus de beira-de-praia, que vão com aquela carrocinha e apertando a buzininha oferecendo cus-cus, cocada, quebra-queixa, quindim e canjiquinha pros banhistas. A mãe do retardado comprou um cus-cus e veio trazer pra ele aquela porra branca toda melecada de leite condensado por cima pro maluquinho comer.

Continuamos a conversa amigável, o moleque ia comendo o cus-cus até com um certo prazer, quando de repente, sem nenhuma explicação, quando o doce estava já na metade, ele olha pro meu amigo e fala:

- Duvida eu esfregar essa porra na tua cara?

Assim, sem mais. Ninguém estava provocando ninguém, nem de olho no cus-cus dele, nada. Não tinha explicação pro camarada esfregar o cus-cus na cara de ninguém, mas como disse, ele fazia coisas sem sentido, como ameaçar um rapaz que tem o dobro de sua força com uma humilhante cuscuzada na cara. O outro desafiou:

- Tu não é nem louco!
-Sprooonng! (cus-cus na cara)

Meu amigo ficou ali um tempo sem reação, com a cara pingando leite-condensado. Até que reagiu e partiu pra cima do doente, mas o bizarro foi que ele agarrou o moleque e em vez de dar umas boas bolachas na cara, fez pior: deitou o moleque de costas sobre seu colo e começou a bater na bunda, dando uma típica surra de mãe, como se estivesse querendo dizer que ia fazer com ele o que sua mãe deveria ter feito muito antes. Acabada a surra, ele solta o garoto, que não se dá por vencido, busca um pedaço de pau gigante e atira contra o agressor, mas acaba acertando o dedão do pé de um cara que passava por ali e que não tinha nada a ver com a história, que sai do cenário mancando e gemendo. Esse foi o terceiro ato.

Cus-cus na cara, tapas na bunda e um inocente levando uma paulada no pé, tudo num breve espaço de tempo. Até hoje quando eu lembro e rio dessa história eu tenho que rir três vezes, uma por cada cena.

Quem me dera presenciar pelo menos mais um momento três em um nesta vida.


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Comments:
ja nao era sem tempo!
 
Ai, Ju, minha vida tá de cabeça pra baixo! Se tu soubesse!
 
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