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17 de setembro de 2007

 

A vida é uma escola





Algumas outras lições aprendidas durante minha vida que me sinto na obrigação de transmiti-las a vocês:


Lição 1:

Quando eu tinha onze anos eu tinha um gatinho. Esse gatinho gostava de brincar dentro do motor do carro do meu pai. Um dia o gatinho estava lá brincando e meu pai ligou o carro, o que fez com que ele se assustasse e saísse dali imediatamente, mas por má sorte ele saiu detrás da roda e justo no momento que meu pai dava a ré.

Engana-se quem acha que o gatinho faleceu ali esmigalhado como um purê. Ele estava aparentemente inteiro ainda depois da roda passar por sua cabeça, só que saltava desesperado e miando de uma maneira tão agonizante que dava pra perceber que tava sentindo uma dor do cacete.

Eu na minha inocência (porra, eu tinha onze anos) havia assistido tudo, e passado o espanto de vê-lo inteiro depois do acidente, só pensava em levá-lo a um veterinário o mais rápido possível. O gato continuava saltando enlouquecido e fazendo tal escândalo que já havia até um grupo de curiosos observando, então quando eu finalmente me aproximei pra pegá-lo no colo ele olhou pra mim, vomitou sangue e os olhos pularam pra fora.

Moral da história: Deus não existe.



Lição 2:

Eu estava saindo com uma menina que era cantora de jazz, e essa menina um dia viu na minha casa um livro sobre história da arte. Ela se admirou muito por ver que eu me interessava por arte, comentou que sempre que ia a museus se sentia perdida e que gostaria de ir com alguém que entendesse do assunto para explicá-la.

Uma semana depois um conhecido dela que era pintor estava montando uma exposição e havia convidado ela, que por sua vez me convidou para ajudá-la a não sentir-se ignorante. Eu tentei explicar ainda que sabia muito pouco, que era só um curioso, mas ela não me deu ouvidos.

Chegando lá na exposição era tudo que eu não queria. Aquele monte de borrões sem pé nem cabeça. Na verdade não eram borrões tipo aquelas manchas de tinta, todas suas telas eram estilo xadrês diagonal pintadas em três cores, a única diferença de uma pra outra eram as cores usadas, e algumas ainda chegavam a ser repetidas.

Ficamos ali andando pela exposição com cara de besta, eu torcendo pra que ela não me perguntasse nada e ela torcendo pra que eu dissesse algo. Até que foi inevitável:

- E então, Thiago?

- Então o quê?

- Que quer dizer isso de tela xadrês?

- Arte abstrata, ué!

- Tá mais o que ele quer dizer com isso?

- (enrolando) Quer dizer..ai quer dizer muitas coisas ..na verdade é você que tem que dizer algo pra si mesma, não o artista, a interpretação nesse caso é livre.

- Será? Sei não, héin!

E eu no desespero tentando lembrar todo o capítulo do livro que falava de arte abstrata, mas foi justamente o que eu tinha dado menos atenção, foi quando lembrei de uma parte que comparava a arte abstrata com a música, e como ela era cantora, essa era a investida perfeita:

- Sabe, os quadros são como uma música. Uma música romântica não precisa ter necessariamente letra falando de amor, pode até ser instrumental, desde que você componha uma melodia que remeta a algo romântico. O mesmo com uma música triste, às vezes o cantor ainda nem começou a cantar, mas só pela introdução você já sabe que vai ser uma letra triste. Os quadros são assim, a arte abstrata é como uma música instrumental, não tem um tema explícito, mas só pelas cores utilizadas e pelos traços do pintor você sabe se ele está passando uma mensagem de raiva, inquietação, alegria ...

Ela começava a se interessar e me olhar como um intelectual, então fomos rever todos os quadros baixo essa nova perspectiva musical:

- Tá vendo aqui? Três cores numa tela xadrês. É como se cada cor fosse uma nota. Tá vendo que os quadradinhos não são iguais? Uns são maiores que outros, é como se fosse uma nota mais longa. Agora considere também que as cores mais claras são notas mais agudas e as escuras são notas mais graves, o branco é um espaço de silêncio, e pronto, você pode sentir a melodia desses quadros.

Ela ficou ali maravilhada revendo os quadros um por um, até que chegou o dono dos quadros e foi ali conversar com a gente. Eu só pensava: "-Fudeu! Esse cara vai me desmascarar!"

- Olá, estão gostando da exposição?

- Adorando, ainda bem que trouxe o Thiago comigo pra me explicar um pouco sobre arte, porque senão não veria a exposição da mesma maneira que agora.

- É? Pois eu sabia que você ia gostar das minhas pinturas, porque você é cantora e meus quadros são muito musicais.

Ela me olhou embasbacada, eu olhei embasbacado pro pintor, o pintor olhou pra gente sem entender porra nenhuma e eu decidi que deveríamos nos despedir o mais rápido possível porque sorte igual àquela eu não ia mais ter.

Moral da história: Arte é um formidável refúgio para pilantras.


Lição 3

Eu estava num ônibus e perto de mim sentaram duas senhoras. Uma dessas senhoras não tinha um pingo de educação. Convesava num volume inaceitável, como se fizesse questão de que todo mundo ouvisse e desse opinião sobre as coisas estúpidas que ela estava falando. Na verdade a outra senhora apenas ouvia sua companheira fazer fofoca de suas amigas a viagem inteira, mas era algo tão grotesco e eu estava tão abismado com o fato de ela falar tão alto como se estivesse numa discoteca que eu começava a sentir raiva daquela coroa. Além do mais era notável em todos os passageiros o quanto aquela mulher incomodava com suas fofoquinhas.

A viagem foi continuando e ela não parou um minuto de tagarelar, e eu me perguntando onde aquela perua ia descer pra me deixar em paz. Até que uma passageira fez sinal pra descer, e quando o ônibus parou se levantou uma moça muito gorda, mas muito gorda mesmo e com calça apertadinha. Foi só a moça se levantar que a coroa parou imediatamente de falar e soltou uma sonora gargalhada que chegou a fazer eco. A menina muito constrangida olhou pra trás, mas não falou nada, e finalmente desceu do ônibus.

Quando o ônibus voltou a arrancar, a coroa ainda tava dando gargalhadas escandalosas. De repente parou de rir e comentou bem alto como se conhecesse o ônibus inteiro:

- Viu o tamanho da bunda da mulher?

Moral da História: O ser humano é inviável

Comments:
Estou chocado com a estória do gato. A frase: "Arte é um formidável refúgio para pilantra" é a sintese mais honesta que eu ouvi sobre um assunto complexo.
 
mas tu teve sorte demais com essa guria. se fosse comigo, ia dar uma cagada fenomenal.
 
Na verdade, a bem da justa e boa verdade, quem teve sorte foi ela. ;)
 
É Zaratustra, a estória do gato foi brutal. O engraçado é que eu peguei u ódio brutal por gatos depois que cresci, não sei se tem alguma relação com o episódio.

Heypress (segunda divisão), o problema foi que fiquei na dúvida: Será que eu falei a verdade sobre os quadros em saber?

Renata: Você por aqui?
 
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